Formada em Psicologia pela Faculdade de Ciências
Humanas de Olinda - FACHO, onde concluí a graduação em 1989, iniciei minha
primeira experiência em saúde pública como psicóloga na Secretaria Municipal de
Saúde do Município de Abreu e Lima. Ao iniciar o meu trabalho fui lotada no
NASF CENTRO no ano de 2008, quando da implantação do programa no município.
Logo no início das minhas atividades profissionais na Secretaria de Saúde
do município pude constatar que se tratava de um novo, mas instigante desafio
para mim. Como acontece, com muitos profissionais de psicologia na área da
saúde, fui designada para desenvolver meu trabalho em uma das três equipes do
NASF do município. Inicialmente a equipe consistia de cinco profissionais: uma
Nutricionista, uma Fonoaudióloga, um Farmacêutico, uma Terapeuta Ocupacional
que logo em seguida, viria a ser substituída por uma Fisioterapeuta, e uma
Psicóloga - Eu. Iniciamos nossas atividades por conhecer as posições geográficas das
Unidades de Saúde, assim como as equipes de profissionais com os quais
trabalharíamos.
Na prática cotidiana, com as confrontações e dilemas
vivenciados na Unidade de Saúde, ao
iniciar minhas funções, ainda acreditava ser possível desenvolver atividades
clínicas sem outras implicações numa instituição de caráter médico-sanitário,
como o são os Centros de Saúde – ingenuidade de iniciante de uma prática ainda
recém-nascida – o NASF. Porém, nada mais desestabilizador do que as
incongruências e impasses surgidos do próprio trabalho. Como era de se esperar,
em pouco tempo, eu havia sentido os efeitos do que se convencionou chamar de ambulatorização,
compreendendo ambulatorização como a prática clínica tradicional da psicologia
caracterizada ao realizar consultas em consultório; havia em mim a tendência hegemônica de atuação do
psicólogo, centrado no caráter privatista e individualizante de atendimento.
Longe da aproximação de uma construção da estruturação do
saber-fazer do NASF junto a Atenção Básica, procurei no âmbito local questionar
o que vinha acontecendo, buscando maior implicação com o trabalho que
desenvolvia e tentando romper com um padrão de ações que julgava ser
contraproducente. Em muitos momentos vivencio a angústia de estar repetindo um
modelo tradicional de assistência, contrário ao modelo implantado pelo SUS objetivando ampliar a abrangência e o escopo das ações da Atenção
Básica, através do NASF.
Foi então que decidi buscar modos concretos de
operacionalizar minha prática profissional, para isto, fui à busca de
informações a cerca do NASF e posteriormente o conhecimento mais abrangente e
técnico através de um curso de Especialização em Saúde Mental com Enfoque na
Atenção Básica, realizado na Faculdade Fassinetti do Recife – FAFIRE, no ano de
2009.
Os conhecimentos adquiridos e as discussões ampliadas para
a esfera da saúde pública e um outro olhar possibilitado pela problematização
quanto a esta nova práxis e ações de
saúde no nível da Atenção Básica – suscitaram o meu desejo e a necessidade em
aprofundar-me nesse debate.
No percurso trilhado até aqui no cotidiano de trabalho e ao
longo do Curso de Especialização tive a chance de amadurecer a idéia de
que é preciso integrar os dispositivos de cuidado em saúde da Atenção Básica –
ESF e NASF - tendo em vista o contexto das novas políticas de saúde mental no
Brasil - como espaços legítimos de acolhimento,
atendimento compartilhado, interdisciplinar, marcado pela troca de saberes
entre os profissionais envolvidos capazes de
contribuir para o processo de inversão do modelo assistencial e de
reestruturação da rede de atenção em saúde mental.
A prática psi desenvolvida
nas unidades de saúde, local de atuação onde acaba por se deparar com uma
infinidade de impasses, mas também com um universo de possibilidades de ação
junto à comunidade bastante rico quando explorado.
Meu propósito consiste em divulgar como se dá o processo
de trabalho do psicólogo do NASF, como são os modos de cuidado e a escuta
oferecida em corresponsabilidade com os profissionais da ESF, as necessidades
que emergem como problemas quanto à construção do saber/fazer compartilhado –
concerne exatamente ao trabalho de analisar esta modalidade de atenção e de
cuidado disponibilizados pela rede de atenção básica no município de Abreu e
Lima.